Eu aprendi a testar amostras e pontos de crochet e tricot em acrílico. Na escola, nos cursos, nos projectos solidários é sempre o que se usa, pois 100 gr. de fio custa muitas vezes entre 0,50 e 1€. Quando se esta a aprender, faz-se e desmancha-se muitas vezes, e com o acesso a materiais cada vez mais facilitado era quase inevitável que isto acontecesse.
Na minha família tanto a minha mãe como a minha prima eram excelentes nos trabalhos que faziam, aprenderam na escola e com outras mulheres e faziam essa arte com muita paixão. Trabalhavam por encomenda, compravam os fios que havia no mercado português e tinham muito sucesso. Procuravam modelos nas poucas revistas que havia no mercado e só quando alguém viajava é que tinham acesso às novidades lá de fora.
Havia encontros para mostrar trabalhos e a maior parte das mulheres, sabia e ensinava porque "lavores femininos", a par da economia doméstica só havia para as mulheres,daí o nome.
A minha mãe trabalhava como empregada de escritório, e quando eu e os meu irmão nascemos era natural que parte do enxoval fosse feito por ela. Como demorava muito tempo nos transportes públicos, tinha muito tempo para o tricot, o seu preferido.
Todos os anos, havia pelo menos uma camisola de inverno, para mim e para o meu irmão e alguma coisa mais leve para usarmos na Páscoa e no resto do Verão.
A sua especialidade eram camisolas e até meados dos anos 80, havia em nossa casa uma coleção enorme. Mais tarde estas camisolas eram dadas a outras crianças quando deixavam de servir.
Já a minha prima, fazia todo o tipo de trabalhos em crochet e tricot para fora, sob encomenda. Foi com ela que vi trabalhos mais variados, tamanhos enormes de camisolas e casacos e as famosas camisolas de surf dos anos 80.
Estas eram normalmente azul escuras ou pretas com uma barra de arco-íris. Toda a gente nova tinha uma para vestir depois do surf, fizesse surf ou não. Eu e o meu irmão tínhamos, e nós só ficávamos na praia ao fim da tarde a assistir. Que saudades...
Não era bem sobre isto que eu queria escrever, mas serve como desculpa para a paixão por esta arte. Devemos inovar e procurar novas soluções à luz do conhecimento que temos agora sobre o ambiente. Procurar os melhores fios e produtos em geral, que sejam produzidos de forma sustentável, e que tenham um custo justo, para os intervinientes é o ideal. Por enquanto a solução do "acrílico", tantas vezes criticada, por todos os que usam materiais para lavores, deve ser encarada como uma fase, sabendo que estamos conscientes do impacto que estamos a causar e que repensar é o primeiro dos "Rs" para um ambiente em recuperação.
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